quinta-feira, 17 de junho de 2010

Queria ser você

Olhou os olhos, desceu pelo nariz, pousou na boca, vermelha, rosa? Contornou o queixo, subiu pelo cabelos ruivos, meio loiros cheio de cachos. Caminhou pela testa, pela orelha esquerda. O que estava procurando, encontrando, onde estava se perdendo? Fechou os olhos para ouvir, só ouvir. Pelos lábios vermelho-rosas vinham a história do mundo, de que mundo? Talvez fosse só como foi o dia, uma história engraçada. Como aqueles lábios transformavam tudo em algo fantástico? Ou talvez fossem os olhos, verde-azuis que diziam tudo. Mas tinha certeza de que tinha algo com as palavras, o acento tão forte e os "s"s arrastados ao limite. Que fala preguiçosa a desses lábios! Mas os olhos davam movimentos, força emoção. Os olhos eram tudo. Você está prestando atenção? Sim.
Em tudo, tudo. Nos dedos brancos que enrolam uma mecha loira-ruiva e que depois a deixa cair como uma mola. O dedo, acompanhado da mão fina, volta para o bolso da calça jeans, que guarda as coxas, brancas, transparentes. Subiu devagar pela barriga, um território inexplorado. O corpo todo era segredo que não para os olhos. Já vira tudo, tudo, tudo. Mas precisava mais. Precisava tocar, entender. Queria entender as curvas delicadas e as pintas que formavam constelações. Podia fazer um mapa celeste daquelas costas, que terminavam em uma bunda perfeita, redonda, ou não? Talvez estivesse ficando cego, míope, estrábico. O que estava olhando? Os olhos verde-azuis, o nariz arrebitado, as sardas pequenas, delicadas, os lábios vermelho-rosas.
E as palavras. Agora aqueles lábios cantavam. E, amor, que voz era aquela. Tinha que estar apaixonado, como tudo podia estar tão perfeito? Os olhos verde-azuis se fecharam e não havia mais o que olhar, então também fechou os olhos. Agora só queria ouvir. Era uma música boba, tão boba, falava de amor. Mas, amor, o que é amar? Pegue o violão. Pegou. E tocou para que os lábios vermelho-rosas cantassem e a voz enchesse o mundo. Então sentiu os dedos quentes, a mão, sobre o braço. Podia sentir e nada mais importava. Só a voz. E os lábios vermelho-rosas. Desviou os olhos do violão. E os olhos verde-azuis. E o nariz e as sardas. E o cabelo loiro-ruivo, os cachos. Só aquilo. E a música, que música? Aquela que falava de amor.

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