terça-feira, 28 de abril de 2009

te amo, desculpe e obrigado

"Primeira coisa que fiz, que pude fazer, assim que sai do carro, foi olhar o céu. Estava azul, algumas poucas nuvens. Ele zombava de mim, só podia. Mais uma lágrima escorria pelo meu rosto. Uma... Como se tivesse parado nessa. Baixei os olhos. A cena passou a ser um retrato em branco e preto. Todos com o negro da cabeça aos pés, alguns com a tristeza certa no olhar, outros com um pesar hipócrita. Enxuguei o rosto com as costas da luva e me virei para ajudar minha mãe a sair do carro. Podia ver ali mesmo que seu peito se dilacerava. Os desejos de pêsames chegavam aos ouvidos, mas não passavam muito disso. Andei com calma até onde você estava, os passos leves de minha mãe logo atrás. E te vi ali, mais uma vez, uma última vez. O cabelo loiro cuidadosamente preso num rabo de cavalo, o rosto mais pálido do que eu podia imaginar, vestido num terno preto. Toquei seu rosto. Sua pele tão mais fria que a minha. Senti a mão da minha mãe apertando meu ombro. Toquei sei peito. Nem uma batida. Quieto, vazio. E foi assim que me senti. Sem nada por dentro, oco, nada. Sei que nunca disse antes e me perdoe por isso, mas preciso dizer agora, mesmo que não possa ouvir. Eu te amo, pai. Desculpe. E obrigado por tudo."

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