sábado, 15 de janeiro de 2011

Comprou uma boneca. Uma desse tipo bem comum. Os cabelos eram loiros e ásperos. Os olhos, grandes e verdes. Tinha a pele nesse bege-rosa que as pessoas cismam em chamar "cor de pele". Pele de quem? Não a dela, com certeza.
Quando chegou em casa, botou a boneca na estante, do outro lado do quarto, sobre a mesa. Mas ali ficava tão longe. Decidiu que ela deveria ficar sobre a cama, confortavelmente sentada sobre o travesseiro. Dali, ela podia ver a janela e o mundo que corria lá fora. Bem na verdade, não havia muito o que correr, talvez os esquilos que saltitavam de uma árvore para outra, ou os passarinhos que voavam para proteger seus ninhos.
Voltou pronta para dormir, com seu pijama preferido, de listras azuis e brancas. Puxou a coberta e a boneca foi ao chão. Recolheu-a com cuidado e a pôs sentada novamente, dessa vez sobre o monte da coberta. Deitou-se, fechou os olhos. E agora?
Virou-se pro lado. Virou-se, virou, virou. Abriu os olhos. Para que tinha comprado a boneca? Abriu os olhos e, esticando o braço, apanhou-a. Apertou a pequenina figura entre seus braços, que, em comparação, eram de um gigante. Ela era quente. Fechou os olhos.

Mas como pode uma boneca sem nome? Todo mundo tem um nome. Abriu os olhos. Examinou sua nova companhia. Pendurada de cabeça para baixa ela poderia se chamar azaléia. Mas não ficaria o tempo de ponta a cabeça! Sentada a sua frente, ela a encarava como se a perguntar, que nome vai me dar? Como sabe que já não tenho nome?
E qual o seu nome, boneca? Qual seu nome?
Boneca.
Abraçou sua, agora, amiga (afinal, não podemos ser amigos de estranhos) e fechou os olhos de novo. Boa noite, Boneca. Boa noite, querida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário